Uma tarde, um velho índio Cherokee contou ao seu
neto
sobre a existência de uma "batalha" que
há no interior de cada pessoa.
- A batalha é entre dois lobos que vivem dentro de
todos nós.
- Um deles é Mau, pois cultiva a raiva, inveja,
ciúme, tristeza,
desgosto, cobiça, arrogância, ressentimento,
mentira e orgulho.
- O outro é Bom, pois cultiva a alegria,
fraternidade,
paz, esperança, serenidade, humildade, bondade,
benevolência,
simpatia, generosidade, verdade e compaixão.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- Mas qual é o lobo que vence essa luta dentro da
gente?
Ao que o velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta...
A
raiva é uma emoção que provoca efeitos bastante perceptíveis física e
mentalmente. O corpo produz uma química
que imediatamente inunda a corrente sanguínea e produz diversas reações:
aumento do batimento cardíaco, alteração da respiração, sensações desagradáveis
no estômago, contração ou tensão nos músculos, entre outras. Além dos efeitos
físicos, a energia dessa emoção gera vários tipos de pensamentos que acabam
alimentando ainda mais a raiva.
Mas
o que verdadeiramente está por trás desse sentimento? A princípio parecemos
mais fortes e até mais capazes e maiores quando estamos com raiva, pois
conseguiremos dizer e fazer coisas que normalmente não teríamos coragem. Só que
na verdade esse sentimento pode estar escondendo várias de nossas inseguranças.
A raiva pode esconder o medo. Imagine uma criança que inocentemente
faz algo muito perigoso, como por exemplo, soltar a mão do adulto e atravessar
a rua correndo. O pai ou a mãe podem ficar loucos da vida e brigar ou mesmo
bater no filho. O que na verdade a raiva está escondendo é o medo que aconteça
alguma coisa de mal com filho, medo da tristeza ou culpa que isso pode causar.
A raiva de alguém pode esconder uma
culpa. Imagine que
tem algo que você tenha feito que o faz sentir culpado. Pode ser o abandono de
um filho, ou uma injustiça contra algum amigo, algum ato desonesto, ou qualquer
outra coisa. Se alguém tocar no assunto, é possível que você se defenda com
raiva e agressividade ao invés de admitir seus erro e reais sentimentos. É como
se você dissesse: Não toque neste assunto, pois isso me faz sentir culpado, e
eu não quero sentir essa culpa, por isso eu agora fico zangado pra que você não
repita mais isso!
A raiva pode esconder uma dificuldade
em dizer não e impor limites.
Tem pessoas que lidam bem com a questão de impor os limites e se fazer
respeitar. Conseguem perfeitamente dizer aos outros quando estão cansadas e
precisam ir embora, que não é permitido que se faça tal coisa em suas casas, ou
ainda que não podem dar aquela carona solicitada pelo amigo. Ou seja, conseguem
de forma tranquila, colocar os limites adequados, o que torna suas relações
mais saudáveis.
Já
outras pessoas tem grande dificuldade. E a cada limite que não é dado, acumulam
um ressentimento. Cada vez que fazem algo contra sua própria vontade, podem até
parecer exteriormente tranquilas, mas por dentro a raiva e mágoa estão se
acumulando. A cada "sapo" que engolem, aumenta a sua inquietação
interior. Até que chega num determinado
momento que é a gota d'água. A raiva se torna tão grande que supera o medo de
colocar limites. Aí sua reação é intensa, agressiva, e é possível que venha a
falar tudo que não falou até aquele momento.
A raiva pode esconder uma necessidade
de manipular o outro.
Uma filha que se sente culpada quando sua mãe fica com raiva estará bastante
suscetível a fazer o que esta mãe quer, e não a sua própria vontade. Pode se
estabelecer um grande jogo de culpa e manipulação recheado de ressentimentos
que as vezes perdura a vida inteira.
Raiva de alguém que não nos perdoou,
esconde que ainda não nos perdoamos.
Às vezes estamos com raiva de alguém por que essa pessoa não nos perdoou por
algo que fizemos e já assumimos o erro e nos desculpamos. Na verdade, nós é que ainda não nos
perdoamos. Estamos contando que o outro nos perdoe para que possamos finalmente
nos perdoar. É como se o outro fosse o detentor do poder de nos devolver a paz
interior. Ficamos então com raiva da pessoa por que ela não nos libera. Mas é
claro que podemos nos liberar, mesmo que o outro ainda tenha mágoa. Como não
conseguimos ver dessa maneira, sofremos.
A raiva pode esconder a necessidade de
reconhecimento.
Fazemos muitas coisas esperando algum tipo de reconhecimento. A princípio
dizemos que não necessitamos de nada disso. Mas quando o reconhecimento não
vem, sentimos raiva das pessoas.
Outras
vezes, alguém fez algo que não gostamos. A raiva surge como uma forma de tentar
fazer com o outro se sinta culpado, reconheça o que nos fez, nos peça desculpas
e diga o quanto foi injusto.
A raiva pode esconder um sentimento de
rejeição. Pessoas que
foram abandonadas, seja pelos pais, parceiros ou outras figuras importantes, sentem-se
rejeitadas. A rejeição é muito incômoda por que normalmente achamos, consciente
ou inconscientemente, que temos algo de muito errado, que não somos dignos de
receber amor. Essa dor pode ser mascarada e tudo que demonstramos é a nossa
mágoa, raiva e desprezo por aquele que nos abandonou. É como se disséssemos:
"Você me rejeitou e me fez sentir que não tenho valor algum, eu não quero
entrar em contato com esse sentimento, não sei lidar com ele. Prefiro
demonstrar que tenho raiva de você, provar que você é injusto, ingrato; que é
uma má pessoa!”.
A raiva pode esconder o sentimento de
impotência ou uma não aceitação do momento presente. Aconteceu algo e não há absolutamente
o que fazer naquele momento. O carro quebrou e você está com muita pressa. O
funcionário perdeu um documento muito importante. A empresa aérea lhe vendeu um
bilhete, mas não tinha vaga no avião. Está chovendo muito no feriado e você
havia planejado ir à praia.
A raiva dos outros pode esconder a
raiva que você sente de você mesmo. Fizemos algo teoricamente contra a nossa
vontade por que alguém pediu. Na realidade, fizemos porque queremos ser aceitos
e temos medo da rejeição. Aí ficamos com raiva da pessoa, talvez achando que
ela é uma exploradora e que somos sua vítima. Analisando mais profundamente, na
verdade estamos com raiva de nós mesmos por termos feito algo que não
queríamos; raiva por não termos sido capaz de dizer um simples não, raiva de
sermos tão dependentes.
Existem
inúmeras outras nuances que a raiva pode estar apenas mascarando. Poderia
listar aqui muitas outras delas. Normalmente, ela vai esconder uma mistura de
vários sentimentos. Quando estamos aplicando EFT e começamos a dissolver a
raiva de uma determinada situação, a verdade vai surgindo. Os sentimentos de
culpa, medo, frustração, necessidade de reconhecimento e outros vão brotando a
cada rodada. É um processo natural, os insights vão surgindo. Continuando a
aplicação da EFT, vamos também dissolvendo tudo que está por trás da raiva, até
se chegar em um estado completo de absoluta paz interior, sem que seja preciso
mudar nenhuma circunstância exterior.
Mascaramos
nossas fragilidades. Sentindo-se fraco, o ego se esconde atrás de uma aparente
capa de força e agressividade, para assustar, manipular os outros ou as
situações da vida. É como alguns animais pequenos e inofensivos fazem na
natureza. Quando estão acuados, tem uns que inflam o papo, se arrepiam, abrem
as asas ou um leque de penas. Tudo para parecer maior e mais forte.
Texto escrito por André Lima
www.eftbr.com.br
3 comentários:
muito bom o seu artigo. o modelo de introdução me trouxe para ele...muito obrigado star!
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