Outono
Passados
o calor e a empolgação do verão e a fase de transição do verão tardio, estamos
agora no outono. Estação fria que antecede o inverno, tempo do frio maior e da
hibernação.
O outono
é o pequeno Yin e o inverno é o grande Yin.
O movimento agora é descendente, as folhas e as frutas caem, os animais
e os homens procuram abrigo. Os dias tornam-se mais curtos e as noites longas.
Tradicionalmente é um tempo de secura.
Outono
é a época da colheita, de todos os frutos, dos bons e dos maus, dos que
plantamos ou dos que brotaram por conta própria, numa terra que ficou largada,
sem cultivos. Tempo de boas safras, de
frutos doces, de ervas daninhas, de sementes estragadas. É hora de lidar com tudo
isso. Selecionar, guardar, assimilar o que serve e descartar ou reciclar o que
não nos serve mais.
Na
escola chinesa dos cinco elementos, o outono está relacionado ao elemento
metal, que nasce da concentração e da deposição do elemento terra. Então
falamos que o fogo, com suas cinzas, gera a terra; a terra, em suas
profundezas, gera o metal; o metal se liquefaz e gera a água; a água irriga e
gera a madeira; a madeira se incendeia e gera o fogo... A ordem é assimilar o
essencial e descartar o inútil.
Metal
representa tudo o que é puro, robusto e valioso. Representa em nós a eterna
colheita. Representa, ainda, os recursos energéticos, as riquezas da natureza e
do próprio organismo humano. Metal representa, também, tudo o que está
relacionado à tecnologia e aos meios de transporte e de comunicação. A atual
era da informação e da comunicação não existiria sem o metal e sem a
necessidade humana de estabelecer contatos e trocas.
No
organismo, metal está vinculado aos órgãos pulmão e intestino grosso. O pulmão
é um órgão aéreo, cujo inicio de funcionamento marca a nossa chegada ao planeta
e cujo final marca a nossa partida. Ao nascermos saímos do escuro meio líquido
materno e vimos à luz. Começamos a viver de forma autônoma com o primeiro ar
inspirado. Esse é o primeiro movimento de “por o mundo para dentro”, de
estabelecer a primeira troca. Ao fim da vida, ao dar a última expirada, o corpo
separa-se do que o anima (“alma”) e volta ao meio escuro da terra.
Dizem
até que já nascemos com um número pré-determinado de respirações a fazer
durante a vida e que, se respirarmos de
forma lenta e profunda, demoraremos mais
a
gastar
esta cota e assim viveremos mais. A medicina chinesa ensina que o pulmão abriga
a alma corpórea, que é parte de nosso psiquismo e da emoção que nos acompanha
durante a vida, enquanto respirarmos, que se liga aos órgãos dos sentidos, às
sensações físicas de dor, prazer, controle dos esfíncteres.
A
pele, nossa fronteira de contato com o mundo externo, e as mucosas, que funcionam
como uma pele interna, revestindo órgãos e vísceras também estão estreitamente
relacionada ao pulmão, ao intestino grosso e à alma etérea.
Todos
respiramos o mesmo ar e isso nos põe em íntimo contato. Ar velho deve ser
descartado, ar novo deve ser inspirado sempre. Ar é o nosso alimento físico
mais essencial e sem o qual não vivemos mais do que pouquíssimos minutos. Tal
como o ar sujo, as vivências passadas devem ser liberadas e desapegadas através
de uma perfeita função pulmonar. A
ligação exagerada ao passado inibe e desvitaliza o pulmão, constrange a alma
corpórea, deprime e angustia todo o conjunto corpo-mente.
Podemos
ficar presos ao passado por duas maneiras básicas e opostas: pela cobiça ou
pela aversão. A cobiça nos liga ao passado que foi bom, ao qual nos ligamos
através dos sentimentos de perda, saudade e tristeza porque não o temos mais.
Para esse mal a cura é a gratidão.
Ser grato, agradecer à vida, a Deus, ao destino por ter tido aquela
oportunidade ou por ter conhecido aquela pessoa. A gratidão fecha a conta
aberta e nos liga novamente ao presente, no qual vive o mundo real.
A
aversão nos liga ao passado que foi ruim, ao qual ficamos presos pelos sentimentos
de mágoa, humilhação, arrependimento, culpa e remorso. Para essa ligação o
remédio é o perdão. O des-culpar,
livrar a culpa, de si mesmo e dos outros. Entender o ocorrido, aprender com os
erros, lavar as nódoas da mágoa e do arrependimento e ser feliz, aqui e agora,
respirando o ar puro e renovado.
São
inúmeras as escolas de crescimento humano e de saúde que se utilizam da
respiração e enfatizam sua importância para a saúde física, mental, emocional e
espiritual. Atividade física aeróbica, exercícios do Yoga, psicoterapias que
utilizam técnicas respiratórias, tais como bioenergética e renascimento,
diversos estilos de meditação, etc. Pela ativação e liberação da alma corpórea,
liberamos todo o ser.
O intestino
grosso lida com o meio externo mais no sentido físico, eliminando os resíduos
do processo digestivo que não servem mais. Em primeiro lugar, não façamos de
nossos intestinos uma lata de lixo, um esgoto apodrecido. Uma alimentação sã,
com ênfase nos vegetais e nas fibras, bem balanceada em crus, cozidos e
líquidos, com ritmo regular e quantidade moderada, pobre em alimentos
industrializados e refinados e bem mastigada são essenciais para uma boa saúde
intestinal.
A
prisão de ventre está muito ligada à falta de fibras, de líquidos, ao sedentarismo.
No plano psíquico guardar fezes corresponde ao apego às coisas materiais, como
aquelas pessoas que guardam um monte de coisas que não usam mais, achando que
um dia vão precisar. A diarreia está relacionada à incapacidade do organismo de
preservar seus recursos naturais. Nesse caso, falta um espírito previdente e
controlado e gasta-se mais do que se ganha.
Outono
é uma ótima época para o exercício físico e respiratório, para a limpeza da
casa e reciclagem das velhas emoções e dos velhos e inúteis objetos. É a hora
de separar o “joio do trigo”, descansar mais e preservar o calor orgânico.
Morrer a cada noite e renascer a cada manhã.
Hélio
Pedrosa
professor e mestre de acupuntura e terapias orientais
(recebido por e-mail)
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