sexta-feira, junho 08, 2012

Outono, inverno, primavera, verão.... ciclos da vida




Outono

Passados o calor e a empolgação do verão e a fase de transição do verão tardio, estamos agora no outono. Estação fria que antecede o inverno, tempo do frio maior e da hibernação.

O outono é o pequeno Yin e o inverno é o grande Yin.  O movimento agora é descendente, as folhas e as frutas caem, os animais e os homens procuram abrigo. Os dias tornam-se mais curtos e as noites longas. Tradicionalmente é um tempo de secura. 

Outono é a época da colheita, de todos os frutos, dos bons e dos maus, dos que plantamos ou dos que brotaram por conta própria, numa terra que ficou largada, sem cultivos.  Tempo de boas safras, de frutos doces, de ervas daninhas, de sementes estragadas. É hora de lidar com tudo isso. Selecionar, guardar, assimilar o que serve e descartar ou reciclar o que não nos serve mais. 

Na escola chinesa dos cinco elementos, o outono está relacionado ao elemento metal, que nasce da concentração e da deposição do elemento terra. Então falamos que o fogo, com suas cinzas, gera a terra; a terra, em suas profundezas, gera o metal; o metal se liquefaz e gera a água; a água irriga e gera a madeira; a madeira se incendeia e gera o fogo... A ordem é assimilar o essencial e descartar o inútil.

Metal representa tudo o que é puro, robusto e valioso. Representa em nós a eterna colheita. Representa, ainda, os recursos energéticos, as riquezas da natureza e do próprio organismo humano. Metal representa, também, tudo o que está relacionado à tecnologia e aos meios de transporte e de comunicação. A atual era da informação e da comunicação não existiria sem o metal e sem a necessidade humana de estabelecer contatos e trocas.

No organismo, metal está vinculado aos órgãos pulmão e intestino grosso. O pulmão é um órgão aéreo, cujo inicio de funcionamento marca a nossa chegada ao planeta e cujo final marca a nossa partida. Ao nascermos saímos do escuro meio líquido materno e vimos à luz. Começamos a viver de forma autônoma com o primeiro ar inspirado. Esse é o primeiro movimento de “por o mundo para dentro”, de estabelecer a primeira troca. Ao fim da vida, ao dar a última expirada, o corpo separa-se do que o anima (“alma”) e volta ao meio escuro da terra.

Dizem até que já nascemos com um número pré-determinado de respirações a fazer durante a vida e que, se  respirarmos de forma lenta e profunda,  demoraremos mais a
gastar esta cota e assim viveremos mais. A medicina chinesa ensina que o pulmão abriga a alma corpórea, que é parte de nosso psiquismo e da emoção que nos acompanha durante a vida, enquanto respirarmos, que se liga aos órgãos dos sentidos, às sensações físicas de dor, prazer, controle dos esfíncteres.

A pele, nossa fronteira de contato com o mundo externo, e as mucosas, que funcionam como uma pele interna, revestindo órgãos e vísceras também estão estreitamente relacionada ao pulmão, ao intestino grosso e à alma etérea.

Todos respiramos o mesmo ar e isso nos põe em íntimo contato. Ar velho deve ser descartado, ar novo deve ser inspirado sempre. Ar é o nosso alimento físico mais essencial e sem o qual não vivemos mais do que pouquíssimos minutos. Tal como o ar sujo, as vivências passadas devem ser liberadas e desapegadas através de uma perfeita função pulmonar.  A ligação exagerada ao passado inibe e desvitaliza o pulmão, constrange a alma corpórea, deprime e angustia todo o conjunto corpo-mente. 

Podemos ficar presos ao passado por duas maneiras básicas e opostas: pela cobiça ou pela aversão. A cobiça nos liga ao passado que foi bom, ao qual nos ligamos através dos sentimentos de perda, saudade e tristeza porque não o temos mais. Para esse mal a cura é a gratidão. Ser grato, agradecer à vida, a Deus, ao destino por ter tido aquela oportunidade ou por ter conhecido aquela pessoa. A gratidão fecha a conta aberta e nos liga novamente ao presente, no qual vive o mundo real.

A aversão nos liga ao passado que foi ruim, ao qual ficamos presos pelos sentimentos de mágoa, humilhação, arrependimento, culpa e remorso. Para essa ligação o remédio é o perdão. O des-culpar, livrar a culpa, de si mesmo e dos outros. Entender o ocorrido, aprender com os erros, lavar as nódoas da mágoa e do arrependimento e ser feliz, aqui e agora, respirando o ar puro e renovado. 

São inúmeras as escolas de crescimento humano e de saúde que se utilizam da respiração e enfatizam sua importância para a saúde física, mental, emocional e espiritual. Atividade física aeróbica, exercícios do Yoga, psicoterapias que utilizam técnicas respiratórias, tais como bioenergética e renascimento, diversos estilos de meditação, etc. Pela ativação e liberação da alma corpórea, liberamos todo o ser.

O intestino grosso lida com o meio externo mais no sentido físico, eliminando os resíduos do processo digestivo que não servem mais. Em primeiro lugar, não façamos de nossos intestinos uma lata de lixo, um esgoto apodrecido. Uma alimentação sã, com ênfase nos vegetais e nas fibras, bem balanceada em crus, cozidos e líquidos, com ritmo regular e quantidade moderada, pobre em alimentos industrializados e refinados e bem mastigada são essenciais para uma boa saúde intestinal.

A prisão de ventre está muito ligada à falta de fibras, de líquidos, ao sedentarismo. No plano psíquico guardar fezes corresponde ao apego às coisas materiais, como aquelas pessoas que guardam um monte de coisas que não usam mais, achando que um dia vão precisar. A diarreia está relacionada à incapacidade do organismo de preservar seus recursos naturais. Nesse caso, falta um espírito previdente e controlado e gasta-se mais do que se ganha.

Outono é uma ótima época para o exercício físico e respiratório, para a limpeza da casa e reciclagem das velhas emoções e dos velhos e inúteis objetos. É a hora de separar o “joio do trigo”, descansar mais e preservar o calor orgânico. Morrer a cada noite e renascer a cada manhã.

Hélio Pedrosa
professor e mestre de acupuntura e terapias orientais
(recebido por e-mail)






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