terça-feira, junho 26, 2012

Raiva - o que existe por trás?



Uma tarde, um velho índio Cherokee contou ao seu neto
sobre a existência de uma "batalha" que há no interior de cada pessoa.
- A batalha é entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
- Um deles é Mau, pois cultiva a raiva, inveja, ciúme, tristeza,
desgosto, cobiça, arrogância, ressentimento, mentira e orgulho.
- O outro é Bom, pois cultiva a alegria, fraternidade,
paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência,
simpatia, generosidade, verdade e compaixão.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- Mas qual é o lobo que vence essa luta dentro da gente?
Ao que o velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta...




A raiva é uma emoção que provoca efeitos bastante perceptíveis física e mentalmente.  O corpo produz uma química que imediatamente inunda a corrente sanguínea e produz diversas reações: aumento do batimento cardíaco, alteração da respiração, sensações desagradáveis no estômago, contração ou tensão nos músculos, entre outras. Além dos efeitos físicos, a energia dessa emoção gera vários tipos de pensamentos que acabam alimentando ainda mais a raiva.

Mas o que verdadeiramente está por trás desse sentimento? A princípio parecemos mais fortes e até mais capazes e maiores quando estamos com raiva, pois conseguiremos dizer e fazer coisas que normalmente não teríamos coragem. Só que na verdade esse sentimento pode estar escondendo várias de nossas inseguranças.

A raiva pode esconder o medo. Imagine uma criança que inocentemente faz algo muito perigoso, como por exemplo, soltar a mão do adulto e atravessar a rua correndo. O pai ou a mãe podem ficar loucos da vida e brigar ou mesmo bater no filho. O que na verdade a raiva está escondendo é o medo que aconteça alguma coisa de mal com filho, medo da tristeza ou culpa que isso pode causar.

A raiva de alguém pode esconder uma culpa. Imagine que tem algo que você tenha feito que o faz sentir culpado. Pode ser o abandono de um filho, ou uma injustiça contra algum amigo, algum ato desonesto, ou qualquer outra coisa. Se alguém tocar no assunto, é possível que você se defenda com raiva e agressividade ao invés de admitir seus erro e reais sentimentos. É como se você dissesse: Não toque neste assunto, pois isso me faz sentir culpado, e eu não quero sentir essa culpa, por isso eu agora fico zangado pra que você não repita mais isso!

A raiva pode esconder uma dificuldade em dizer não e impor limites. Tem pessoas que lidam bem com a questão de impor os limites e se fazer respeitar. Conseguem perfeitamente dizer aos outros quando estão cansadas e precisam ir embora, que não é permitido que se faça tal coisa em suas casas, ou ainda que não podem dar aquela carona solicitada pelo amigo. Ou seja, conseguem de forma tranquila, colocar os limites adequados, o que torna suas relações mais saudáveis.

Já outras pessoas tem grande dificuldade. E a cada limite que não é dado, acumulam um ressentimento. Cada vez que fazem algo contra sua própria vontade, podem até parecer exteriormente tranquilas, mas por dentro a raiva e mágoa estão se acumulando. A cada "sapo" que engolem, aumenta a sua inquietação interior. Até que chega num  determinado momento que é a gota d'água. A raiva se torna tão grande que supera o medo de colocar limites. Aí sua reação é intensa, agressiva, e é possível que venha a falar tudo que não falou até aquele momento. 

A raiva pode esconder uma necessidade de manipular o outro. Uma filha que se sente culpada quando sua mãe fica com raiva estará bastante suscetível a fazer o que esta mãe quer, e não a sua própria vontade. Pode se estabelecer um grande jogo de culpa e manipulação recheado de ressentimentos que as vezes perdura a vida inteira.

Raiva de alguém que não nos perdoou, esconde que ainda não nos perdoamos. Às vezes estamos com raiva de alguém por que essa pessoa não nos perdoou por algo que fizemos e já assumimos o erro e nos desculpamos.  Na verdade, nós é que ainda não nos perdoamos. Estamos contando que o outro nos perdoe para que possamos finalmente nos perdoar. É como se o outro fosse o detentor do poder de nos devolver a paz interior. Ficamos então com raiva da pessoa por que ela não nos libera. Mas é claro que podemos nos liberar, mesmo que o outro ainda tenha mágoa. Como não conseguimos ver dessa maneira, sofremos.

A raiva pode esconder a necessidade de reconhecimento. Fazemos muitas coisas esperando algum tipo de reconhecimento. A princípio dizemos que não necessitamos de nada disso. Mas quando o reconhecimento não vem, sentimos raiva das pessoas.

Outras vezes, alguém fez algo que não gostamos. A raiva surge como uma forma de tentar fazer com o outro se sinta culpado, reconheça o que nos fez, nos peça desculpas e diga o quanto foi injusto.

A raiva pode esconder um sentimento de rejeição. Pessoas que foram abandonadas, seja pelos pais, parceiros ou outras figuras importantes, sentem-se rejeitadas. A rejeição é muito incômoda por que normalmente achamos, consciente ou inconscientemente, que temos algo de muito errado, que não somos dignos de receber amor. Essa dor pode ser mascarada e tudo que demonstramos é a nossa mágoa, raiva e desprezo por aquele que nos abandonou. É como se disséssemos: "Você me rejeitou e me fez sentir que não tenho valor algum, eu não quero entrar em contato com esse sentimento, não sei lidar com ele. Prefiro demonstrar que tenho raiva de você, provar que você é injusto, ingrato; que é uma má pessoa!”.

A raiva pode esconder o sentimento de impotência ou uma não aceitação do momento presente. Aconteceu algo e não há absolutamente o que fazer naquele momento. O carro quebrou e você está com muita pressa. O funcionário perdeu um documento muito importante. A empresa aérea lhe vendeu um bilhete, mas não tinha vaga no avião. Está chovendo muito no feriado e você havia planejado ir à praia.

A raiva dos outros pode esconder a raiva que você sente de você mesmo.  Fizemos algo teoricamente contra a nossa vontade por que alguém pediu. Na realidade, fizemos porque queremos ser aceitos e temos medo da rejeição. Aí ficamos com raiva da pessoa, talvez achando que ela é uma exploradora e que somos sua vítima. Analisando mais profundamente, na verdade estamos com raiva de nós mesmos por termos feito algo que não queríamos; raiva por não termos sido capaz de dizer um simples não, raiva de sermos tão dependentes.

Existem inúmeras outras nuances que a raiva pode estar apenas mascarando. Poderia listar aqui muitas outras delas. Normalmente, ela vai esconder uma mistura de vários sentimentos. Quando estamos aplicando EFT e começamos a dissolver a raiva de uma determinada situação, a verdade vai surgindo. Os sentimentos de culpa, medo, frustração, necessidade de reconhecimento e outros vão brotando a cada rodada. É um processo natural, os insights vão surgindo. Continuando a aplicação da EFT, vamos também dissolvendo tudo que está por trás da raiva, até se chegar em um estado completo de absoluta paz interior, sem que seja preciso mudar nenhuma circunstância exterior.

Mascaramos nossas fragilidades. Sentindo-se fraco, o ego se esconde atrás de uma aparente capa de força e agressividade, para assustar, manipular os outros ou as situações da vida. É como alguns animais pequenos e inofensivos fazem na natureza. Quando estão acuados, tem uns que inflam o papo, se arrepiam, abrem as asas ou um leque de penas. Tudo para parecer maior e mais forte.

Texto escrito por André Lima
www.eftbr.com.br

sexta-feira, junho 08, 2012

Outono, inverno, primavera, verão.... ciclos da vida




Outono

Passados o calor e a empolgação do verão e a fase de transição do verão tardio, estamos agora no outono. Estação fria que antecede o inverno, tempo do frio maior e da hibernação.

O outono é o pequeno Yin e o inverno é o grande Yin.  O movimento agora é descendente, as folhas e as frutas caem, os animais e os homens procuram abrigo. Os dias tornam-se mais curtos e as noites longas. Tradicionalmente é um tempo de secura. 

Outono é a época da colheita, de todos os frutos, dos bons e dos maus, dos que plantamos ou dos que brotaram por conta própria, numa terra que ficou largada, sem cultivos.  Tempo de boas safras, de frutos doces, de ervas daninhas, de sementes estragadas. É hora de lidar com tudo isso. Selecionar, guardar, assimilar o que serve e descartar ou reciclar o que não nos serve mais. 

Na escola chinesa dos cinco elementos, o outono está relacionado ao elemento metal, que nasce da concentração e da deposição do elemento terra. Então falamos que o fogo, com suas cinzas, gera a terra; a terra, em suas profundezas, gera o metal; o metal se liquefaz e gera a água; a água irriga e gera a madeira; a madeira se incendeia e gera o fogo... A ordem é assimilar o essencial e descartar o inútil.

Metal representa tudo o que é puro, robusto e valioso. Representa em nós a eterna colheita. Representa, ainda, os recursos energéticos, as riquezas da natureza e do próprio organismo humano. Metal representa, também, tudo o que está relacionado à tecnologia e aos meios de transporte e de comunicação. A atual era da informação e da comunicação não existiria sem o metal e sem a necessidade humana de estabelecer contatos e trocas.

No organismo, metal está vinculado aos órgãos pulmão e intestino grosso. O pulmão é um órgão aéreo, cujo inicio de funcionamento marca a nossa chegada ao planeta e cujo final marca a nossa partida. Ao nascermos saímos do escuro meio líquido materno e vimos à luz. Começamos a viver de forma autônoma com o primeiro ar inspirado. Esse é o primeiro movimento de “por o mundo para dentro”, de estabelecer a primeira troca. Ao fim da vida, ao dar a última expirada, o corpo separa-se do que o anima (“alma”) e volta ao meio escuro da terra.

Dizem até que já nascemos com um número pré-determinado de respirações a fazer durante a vida e que, se  respirarmos de forma lenta e profunda,  demoraremos mais a
gastar esta cota e assim viveremos mais. A medicina chinesa ensina que o pulmão abriga a alma corpórea, que é parte de nosso psiquismo e da emoção que nos acompanha durante a vida, enquanto respirarmos, que se liga aos órgãos dos sentidos, às sensações físicas de dor, prazer, controle dos esfíncteres.

A pele, nossa fronteira de contato com o mundo externo, e as mucosas, que funcionam como uma pele interna, revestindo órgãos e vísceras também estão estreitamente relacionada ao pulmão, ao intestino grosso e à alma etérea.

Todos respiramos o mesmo ar e isso nos põe em íntimo contato. Ar velho deve ser descartado, ar novo deve ser inspirado sempre. Ar é o nosso alimento físico mais essencial e sem o qual não vivemos mais do que pouquíssimos minutos. Tal como o ar sujo, as vivências passadas devem ser liberadas e desapegadas através de uma perfeita função pulmonar.  A ligação exagerada ao passado inibe e desvitaliza o pulmão, constrange a alma corpórea, deprime e angustia todo o conjunto corpo-mente. 

Podemos ficar presos ao passado por duas maneiras básicas e opostas: pela cobiça ou pela aversão. A cobiça nos liga ao passado que foi bom, ao qual nos ligamos através dos sentimentos de perda, saudade e tristeza porque não o temos mais. Para esse mal a cura é a gratidão. Ser grato, agradecer à vida, a Deus, ao destino por ter tido aquela oportunidade ou por ter conhecido aquela pessoa. A gratidão fecha a conta aberta e nos liga novamente ao presente, no qual vive o mundo real.

A aversão nos liga ao passado que foi ruim, ao qual ficamos presos pelos sentimentos de mágoa, humilhação, arrependimento, culpa e remorso. Para essa ligação o remédio é o perdão. O des-culpar, livrar a culpa, de si mesmo e dos outros. Entender o ocorrido, aprender com os erros, lavar as nódoas da mágoa e do arrependimento e ser feliz, aqui e agora, respirando o ar puro e renovado. 

São inúmeras as escolas de crescimento humano e de saúde que se utilizam da respiração e enfatizam sua importância para a saúde física, mental, emocional e espiritual. Atividade física aeróbica, exercícios do Yoga, psicoterapias que utilizam técnicas respiratórias, tais como bioenergética e renascimento, diversos estilos de meditação, etc. Pela ativação e liberação da alma corpórea, liberamos todo o ser.

O intestino grosso lida com o meio externo mais no sentido físico, eliminando os resíduos do processo digestivo que não servem mais. Em primeiro lugar, não façamos de nossos intestinos uma lata de lixo, um esgoto apodrecido. Uma alimentação sã, com ênfase nos vegetais e nas fibras, bem balanceada em crus, cozidos e líquidos, com ritmo regular e quantidade moderada, pobre em alimentos industrializados e refinados e bem mastigada são essenciais para uma boa saúde intestinal.

A prisão de ventre está muito ligada à falta de fibras, de líquidos, ao sedentarismo. No plano psíquico guardar fezes corresponde ao apego às coisas materiais, como aquelas pessoas que guardam um monte de coisas que não usam mais, achando que um dia vão precisar. A diarreia está relacionada à incapacidade do organismo de preservar seus recursos naturais. Nesse caso, falta um espírito previdente e controlado e gasta-se mais do que se ganha.

Outono é uma ótima época para o exercício físico e respiratório, para a limpeza da casa e reciclagem das velhas emoções e dos velhos e inúteis objetos. É a hora de separar o “joio do trigo”, descansar mais e preservar o calor orgânico. Morrer a cada noite e renascer a cada manhã.

Hélio Pedrosa
professor e mestre de acupuntura e terapias orientais
(recebido por e-mail)






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